A menina Anna Luiza, de 2 anos e oito meses, que veio de Minas Gerais com a família para ver a praia pela primeira vez, em Guarapari, e foi atingida por um bloco de concreto que se soltou de uma varanda no dia 19 deste mês, teve mais uma melhora do quadro de saúde e deixou a Unidade Semi-intensiva do Hospital Infantil de Vitória. Agora ela se recupera na enfermaria do centro hospitalar, de acordo com a avó, Geni Rodrigues de Abreu. 


Em entrevista à TV Gazeta, o pai da criança mencionou que os médicos não deram previsão de alta, mas que as reações de Anna Luiza têm acontecido dentro do esperado. Diante da evolução do quadro de saúde da menina, e após ver a neta ser chamada de "milagre" pelos próprios médicos, dona Geni, bastante otimista, conversou com a Reportagem de A Gazeta e detalhou a evolução que a criança vem enfrentando. 


Dona Geni, como a senhora está?

Hoje eu estou mais aliviada, acalentada, porque hoje as notícias são boas e estamos então mais à vontade para falar. No sábado eu fui visitá-la, o médico falou para levar coisas para estimulá-la. Eu levei uma boneca, na esperança de chegar lá e arrancar um sorriso dela, mas isso não aconteceu. Ela estava apática. Do jeito que estava, continuou. Saí de lá arrasada, o rostinho que eu vi não era o que eu gostaria de ter visto. Mas ontem (28) ela já estava bem diferente, ela sorriu para minha filha. Hoje ela chegou a falar, antes só balbuciava, tentava falar mamãe, vovô, mas não tinha falado mesmo. A minha filha falou “bom dia meu amor” e ela respondeu um bom dia animado, como ela fazia antes. Ela chegou a falar “bubu”, que é como ela chama a chupeta. A fralda ela falou "fafalda" e disse "neném" para a bonequinha que eu levei. Ontem eu levei outra boneca, mais parecida com a que ela gosta, mas lavei a roupinha da preferida dela e coloquei nessa outra para ela achar que era a mesma, que ela arrasta para todo lado. Ontem ela brincou muito já.


Hoje faz 10 dias desde o acidente.  O que dizem os médicos?

É, foi no penúltimo sábado. Mas nem sei, desde o dia que aconteceu eu não conto mais dias e horas. Não consegui falar ainda com médico, só falei uma vez, logo após a cirurgia. Hoje fui ao hospital para isso e não consegui falar. Os médicos específicos dela ficam só de manhã, horário que não acompanho. Mas só de ela sair da parte mais crítica, já demonstra a melhora dela. Eu a vi dormindo, mas só de ver o rostinho dela, que já tá mais bonitinho, percebi que está mais alegre. Estou numa felicidade imensa, a gente sabe que tá todo mundo torcendo, sei de pessoas que acordam cedo para ver o jornal para ter notícias dela, então merecem saber do progresso. Ontem (28), por exemplo, foi o primeiro banho mesmo dela, quando lavou a cabecinha. Não demonstrou dor, ela demonstrou nervosismo porque a mãozinha dela esteve contida para não arrancar a sonda e o acesso do pescoço, porque ela é muito agitada. Agora tá com a mão solta. O lado esquerdo dela tá quietinho ainda, se movimentando com lentidão. Mas a cabecinha já vira para todo lado, o rostinho já movimenta bem, o bracinho e a perninha. Minha filha estimulou muito ela, pediu para ela dar mamadeira para a boneca e ela deu.


Quem está em Vitória acompanhando?

Só uma tia ficou. Eu, minha filha mais velha (a tia), mãe e pai. No dia do acidente estavam minha irmã, a filha dela, a nora e meu marido também. Na segunda-feira eles foram embora. Meu marido foi no meio da semana. Ele deu assistência, ficou o máximo que pode.


Como estão os pais agora?

Estão com certeza mais esperançosos, o pai já conseguiu dar um sorriso, minha filha está mais alegre. Estão muito assustados ainda, ela e a tia andam na rua com medo, qualquer barulho que ouve já assusta. Não olham mais pra cima, qualquer estalo acham que alguma coisa está caindo, estão com trauma. Mas hoje estamos respirando aliviados com o progresso que Anna Luiza está tendo. Os médicos já chamam ela de milagre. A fonoaudióloga chorou quando a viu. O médico que fez a cirurgia disse que tudo está dentro do esperado. Uma enfermeira disse que quando foi feita a raspagem na cabeça não viu nem arranhão na testa. Mas quando foi aberta durante o procedimento, o cenário era feio. Foi uma pancada muito forte. Hoje parece que foi a terceira tomografia feita depois do acidente e os médicos falam que a resposta está dentro do esperado, que ela já não perde mais sangue. Não está mais com bandagem, a cirurgia tá sequinha. O corte foi enorme, mais de trinta pontos.


O que você mais deseja nesse momento?

Pegar minha bichinha e levar de volta para casa, o mais rápido possível. Queria deixar para trás o que passou, esquecer. Mas não dá para esquecer a cena que eu vi. Acho que nunca mais vou esquecer. O rapaz do condomínio falou “a senhora vai esquecer, vai voltar aqui de novo” e eu disse que não, que agradeço a oferta, mas aqui não volto nunca mais. Foi um sonho que virou pesadelo, a minha família sequer conhecia o mar.


A senhora já tinha vindo ao Espírito Santo antes?

Não. Eu não conhecia o mar, minhas filhas e o pai de Anna Luiza também não. Ela convenceu eles a vir. Eu viajei para Belo Horizonte com minha filha e ela, costumo cuidar dela para os pais trabalharem. Ela chega na minha casa 7h da manhã e é buscada às 18h ou quando dá. Eu viajei com ela para a casa da minha irmã e fiquei fazendo roupinha para vir para a praia, já que sou costureira. Foi então que minha irmã me convidou, me convenceu e eu convenci minha filha. Era o nosso primeiro dia aqui, chegamos sábado de manhã, passamos o dia na praia. A noite saímos para jantar e aconteceu o acidente.


A senhora acredita que o acidente tenha uma explicação?

A explicação que tem é que o imprevisto sobrevém a todos nós. Infelizmente. E não é culpa de ninguém, é estar no local errado, na hora errada. Estava só a nossa família na hora naquela calçada. Ela mesma passou com a mãe naquele mesmo local quatro vezes. Passamos de manhã quando fomos para a praia, a mãe voltou com ela para a pensão para dar banho, voltou para a praia, onde fizemos um passeio à tarde, e voltamos à noite. Quando estávamos passando pela quarta vez, aconteceu o acidente. Não culpo ninguém, aconteceu porque tinha que acontecer.


O que a senhora diria para outras famílias que enfrentam uma dificuldade como esta?

Tudo que a gente precisa ter é fé em Deus. Só ele pode fazer o possível do impossível. Nós não podemos fazer nada. Nós podemos só orar a Deus e deixar nas mãos dele, ele pode fazer o que nós não podemos. Pode fazer coisas que a gente jamais imaginaria. No caso dela, os médicos estão encantados com o progresso, como outras crianças que a gente vê. Soubemos de uma que caiu do terceiro andar e sobreviveu. Nesse momento é só ter fé, esperança e confiar no tempo de Deus e também confiar nos médicos. 


Como tem sido o cuidado com ela no hospital?

Ela está sendo muito bem cuidada lá, a cirurgia foi muito bem assistida, as enfermeiras cuidam dela com muito carinho. Isso tudo tem sido um alento, deixa a gente mais confiante e confortável. O pessoal do condomínio tá apoiando, a gente não teria condições de estar na situação que estamos sem ajuda, em um lugar tão longe de casa. Graças a Deus estão sendo muito humanos e muito generosos com a gente. Temos muito apoio da família, que é muito grande, tanto a de sangue quanto a da igreja. Ligam o tempo todo querendo informação, fazem orações, cada um do seu jeito e com a sua fé. Eu sempre dou notícias quando consigo. Hoje mesmo estava muito abalada, tive que ir ao médico, estou com a mão formigando e foi pedida tomografia. No momento do susto, eu estava mais na frente, dei uma virada muito brusca. Só vinha na minha cabeça a Anna Luiza. Quando eu virei, já tinha acertado ela. Pensei hoje que a dor fosse da hérnia de disco, mas o médico disse que não era isso, que na verdade pode ter lesionado a cervical. E neste ano, dia 22 de janeiro, fiz cirurgia de tumor no cérebro. Minha recuperação foi inédita, o pessoal tava esperando que eu fosse ficar 30 dias no hospital, mas fiquei apenas quatro, saí andando e falando. Minha filha falou comigo que Anna Luiza é igual a mim. Mas é para ser mesmo, ser danadinha igual a avó dela. Daqui a pouco o cabelo dela vai estar grandão também, assim como o meu cresceu. Minha recuperação foi muito boa, graças a Deus. E a dela também vai ser. Ela vai voltar para casa, andando, falando, levada e sapeca como ela é, além de toda vaidosa. Lá em Pirapora (Minas Gerais) chamam ela de blogueirinha, de tão vaidosa que é.


Que recado a senhora deixaria sobre este caso?

Eu gostaria de entrar em contato com a Prefeitura, não só com a de Guarapari, para conversar e tentar evitar outras situações como essa, porque ninguém merece passar pelo que eu e minha família passamos com a minha neta, não desejo isso para ninguém.



fonte:agazeta.com.br