Sinal verde para restauração do legendário vapor Benjamim Guimarães, uma das últimas embarcações movidas a lenha no mundo e, para tristeza dos moradores de Pirapora, na Região Norte de Minas, e dos viajantes, há mais de cinco anos sem condições de navegar nas águas do Rio São Francisco. Como fruto do convênio firmado entre o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG), será anunciada na manhã desta terça-feira (3), no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), em Belo Horizonte, o investimento de R$ 3,7 milhões, por parte da autarquia federal vinculada ao Ministério do Turismo, para a recuperação do barco construído em 1913, nos Estados Unidos.
Já o Iepha-MG, vinculado à Secretaria de Estado da Cultura e Turismo e responsável pelo tombamento da embarcação em 1985, vai liberar, como contrapartida, R$ 74 mil. O recurso será usado para executar e contratar os serviços de substituição do casco e a restauração das demais áreas da embarcação, além do mobiliário. A expectativa é de que autoridades federais e estaduais estejam presentes à reunião ordinária do Conselho Nacional de Turismo, prevista para começar às 8h30, no CCBB, que fica na Praça da Liberdade, Região Centro-Sul da capital.
Conforme o Iphan, o Benjamim Guimarães, que já navegou no Rio Mississipi (EUA) e, posteriormente, em rios da Bacia Amazônica, mantém as características originais. No Velho Chico, navegou até 2014 e, por várias décadas, foi usado para levar cargas e passageiros no trecho Pirapora (MG) - Juazeiro (BA), servindo até no transporte de tropas do Exército Brasileiro durante a II Guerra Mundial (1939-1945).


Com capacidade para transportar até 140 pessoas, entre tripulantes e passageiros, o vapor tem três pisos: no primeiro, estão a casa de máquinas, caldeira, banheiros e uma área para abrigar passageiros; no segundo, se encontram instalados 12 camarotes; e, no terceiro, há um bar e área coberta. Em matéria publicada no site do Iphan, os técnicos informam que "com a reforma e restauração, a população – especialmente de Pirapora e dos demais municípios que margeiam o rio em seu trecho navegável – poderá ver de volta o vapor passeando pelo São Francisco e contribuindo para a movimentação econômica e turística da região".

Prejuízo para o turismo de Pirapora

Conforme reportagem publicada pelo Estado de Minas em maio, a interrupção dos passeios a bordo do vapor Benjamim Guimarães, no Rio São Francisco, provocou prejuízos no turismo de Pirapora. As perdas, segundo a Associação Nosso Turismo (Antur), se deveram à redução do número de visitantes no município a fim de fazer passeios na embarcação – eram cerca de 200 nos fins de semana.

Na época, o Iepha, a Marinha do Brasil e uma empresa fizeram vistoria conjunta na embarcação, resultante de mais uma ação dos moradores da Pirapora em prol da recuperação do vapor centenário. Ele parou de rodar em 29 de agosto de 2014, quando a Capitania Fluvial do São Francisco, em Pirapora, constatou “deficiências no chapeamento com diversos rasgos e furos no casco, comprometendo a segurança da navegação e a vida humana”.

Diante das perdas causadas ao turismo regional, a comunidade de Pirapora iniciou uma mobilização a favor da reforma do vapor. A vistoria técnica foi um desdobramento de audiência pública promovida pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), em de abril de 2018, para discutir a situação do vapor.

História ligada ao Velho Chico

Conforme o Guia de bens tombados Iepha-MG, o vapor tem sua história relacionada diretamente ao processo de implantação da navegação comercial no São Francisco, iniciado na segunda metade do século 19 e que permaneceu em ritmo forte até meados do 20. Além de referência cultural, ambiental, econômica e paisagística, o rio que percorre o interior do Brasil sempre foi uma via natural para os deslocamentos e, antes mesmo de os colonos portugueses se estabelecerem às margens, os nativos já usavam as canoas para navegar no São Francisco e seus afluentes.

Os pesquisadores registraram: "A vocação do rio para o transporte sempre foi clara, tanto que, na segunda metade dos oitocentos, o governo imperial de dom Pedro II se ocupou em empreender o desenvolvimento da navegação a fim de atender o transporte de carga e passageiros (…) Estudos do engenheiro Henrique Guilherme Fernando Halfeld apontaram a possibilidade de navegação até Juazeiro (BA)".

Criação norte-americana

O Guia de bens tombados Iepha-MG conta a história do Benjamim Guimarães, construído em 1913 pelo estaleiro de James Rees & Sons, importante armador norte-americano conhecido pelas embarcações a vapor. O navio chegou ao Brasil adquirido pela The Amazon River Steam Company e navegou durante alguns anos no Rio Amazonas, sendo depois comprado pela Empresa Júlio Mourão Guimarães – foi desmontado e montado em Pirapora, no Norte de Minas, no fim da década de 1920.

Depois de montado, foi batizado com o nome do patriarca da família e passou a se chamar Benjamim Guimarães. A embarcação transportou passageiros e cargas por todo o rio e, em data não especificada, passou a pertencer à Companhia Indústria e Viação de Pirapora. Na década de 1950, passou para a recém-criada Comissão do Vale do São Francisco, e 30 anos depois, atendeu somente ao turismo, com pequenas viagens na região. Já nos anos 1990, se tornou propriedade da Prefeitura de Pirapora. 

fonte:msn