Depois de quase três meses de pandemia e dos efeitos da paralisação das atividades econômicas para evitar a disseminação do coronavírus, famílias que tiveram a fonte de renda comprometida viram as dívidas se acumularem. Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgados em maio deste ano pelo Ministério da Economia apontam que 860 mil postos de trabalho foram extintos no país. Em Minas Gerais, 88 mil vagas foram extintas em todos os setores – 20 mil apenas em Belo Horizonte. 
Para tentar dar um alívio no bolso dos consumidores, a Serasa realiza a partir dessa semana, em parceria com a empresa Ativos, uma ação para que consumidores consigam regularizar os débitos. A ideia é de que pessoas que tenham dívidas entre R$ 200 e R$ 1.000 consigam quitar as dívidas integralmente pelo valor de R$ 100. A dívida, no entanto, deve estar na plataforma da empresa Ativos. 
“A pessoa precisa ter uma dívida dentro da Ativos, essa dívida precisa estar na nossa plataforma do Serasa Limpa Nome e dentro de uma faixa de R$ 200 e R$ 1.000. Se a pessoa se enquadra nesse perfil, ela entra na nossa plataforma e consulta. Se lá tiver uma proposta para ela quer dizer que ela se enquadra dentro dessa ação”, explica a gerente de marketing da Serasa, Nathália Dirani.
A expectativa é de que 1,5 milhão de pessoas consigam regularizar os débitos. Ainda segundo Dirani, como a empresa Ativos trabalha especificamente com a compra de dívidas do mercado financeiro, o público alvo da ação são pessoas que possuem dívidas com bancos. “É muito fácil e rápido. É só ela entrar na plataforma que a pessoa consegue ver se ela faz parte dessa campanha ou não. Ela ainda pode ver se ela tem alguma outra dívida que ela pode negociar e quitar com até 90% de desconto”, pontua.
Além do site Serasa Limpa Nome (www.serasa.com.br), a consulta também pode ser feita por meio do aplicativo da Serasa disponível para Android e IOS. Outro meio de comunicação é pelo WhatsApp através do número (11) 98870-7025. Os atendimentos presenciais nas agências da Serasa estão interrompidos devido à pandemia de coronavírus. 
Alívio
Apesar da ação ser direcionada para pessoas que tem dívidas com bancos e instituições financeiras, riscar mais uma dívida da lista pode fazer muita diferença.  A diarista Queila de Fátima Teixeira, 40, que trabalhava no Coração Eucarístico, na região Noroeste de Belo Horizonte conta que teve que deixar o emprego com o início da pandemia, por ter um filho pequeno que faz parte do grupo de risco ao coronavírus. Agora ela  vive exclusivamente do auxílio emergencial do governo. Com isso, as contas vieram e também os gastos dentro de casa tiveram aumentos significativos.
"A despesa deve ter aumentado uns 30%. Estou devendo aluguel, pago um e fico devendo o outro que já venceu. Antes conseguia manter tudo em dia, como água, luz, mas agora fica umas três contas para trás e pago só uma", detalha. Só com a moradia, que fica no bairro Goiânia, na região Nordeste da capital, o débito mensal chega a R$ 600. O filho, que precisa de medicamentos controlados, precisou interromper o tratamento. "Com os remédios, o gasto era de R$ 500 por mês. Está complicado, não estou conseguindo dormir. Estamos vivendo dia após o outro e pensando como que vai ser o amanhã", revela.
Na casa da costureira Jhoyce Brandão, 34, a situação também é crítica. Depois de perder todos os clientes e o marido ser demitido, eles tiveram que deixar de pagar despesas básicas, como água e luz, e só conseguem custear a alimentação. Só de IPTU, a dívida ultrapassa R$ 1.000. "Meu esposo tinha conseguido um trabalho, em um restaurante no Sagrada Família, mas veio a pandemia e ele foi dispensado depois de 19 dias. Recebeu só o período trabalho", afirma.
E com a escola dos dois filhos fechada pela pandemia, as dificuldades aumentam ainda mais. "Chegaram as contas de água, luz, impostos, e infelizmente não temos como pagar. É uma situação muito complicada, as crianças estão em casa todos os dias, então é café da manhã, lanche, almoço, lanche da tarde, jantar, e lanche antes de dormir. Quase três meses e a gente enfrentando essa dificuldade muito grande", lamenta.
Já a Paula Cristina de Jesus, 29, e a companheira, Juliana Maíra, tiveram que voltar a morar com os pais para evitar um acúmulo ainda maior de dívidas. Ela, que foi dispensada do emprego em março, contabiliza quase R$ 5.000 de débitos, entre cartão de crédito e despesas básicas. "Os juros são altíssimos e os limites dos cartões já estão no fim. O auxílio do governo também não apareceu. Como eu também monto móveis, de vez em quando aparece algum trabalho. Só sai dinheiro, não entra nada", diz.